Diário do Profº Percival – Vol. 1
- Odisseia card game
- há 15 horas
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Minha mãe jamais permitiria que eu seguisse com minhas escolhas...
Olá, meu querido entusiasta por conhecimento,
Comecei este diário como uma forma de registrar — e talvez transmitir — um pouco do meu cotidiano na Torre Entrópica, ou, como ficou mais conhecida, a Torre do “Mago Louco". Sendo sincero, às vezes me questiono por que ainda leciono neste lugar. Os eventos que ocorrem aqui são completamente caóticos e imprevisíveis. Ainda assim, sinto que abandonar os estudantes em meio a tamanha loucura seria uma falha moral da qual eu jamais me recuperaria.
Refleti bastante sobre como iniciar estes relatos. Pensei em falar do meu passado, de como cheguei à torre há dez anos, ou talvez narrar feitos notáveis de alunos antigos. Contudo, acontecimentos recentes tomaram um destaque grande demais para serem ignorados. Sendo assim, começarei por eles.
Tudo teve início cerca de um semestre atrás.
Acordei naquela manhã acreditando que tudo seguiria dentro da minha rotina habitual. Despertei com fadas de algum plano de existência discutindo sobre quem teria o direito de usar minha barba como cobertor. Sim, isso é mais comum do que parece. Elas vêm debatendo o mesmo assunto há pelo menos três anos. Toda vez que intervenho, no dia seguinte esquecem completamente e recomeçam a discussão. Por esse motivo, aprendi a ignorá-las.
Calcei minhas pantufas úmidas feitas de couro de hipocampo — adoro sentir a sensação do mar nos pés logo ao acordar — e fui até a janela. É sempre prudente fechá-la quando ela se conecta a uma realidade onde répteis gigantes cruzam campos cuspindo ácido pelas narinas. Já perdi mantos belíssimos para essas criaturas.
Tudo parecia absolutamente normal para uma manhã na torre… até que ouvi as batidas na porta.
Cinco batidas e dois chutinhos. O “toque especial” do mago. E é altamente recomendável atender rapidamente, ou ele faz questão de infernizar o resto da sua manhã.
Abri a porta e lá estava ele, com seu chapéu pontudo e manto lilás, mais empolgado do que nunca. Sorria enquanto anunciava que novos alunos haviam chegado. Confesso que isso também me animou. Fazia pelo menos três semestres que ninguém se candidatava a estudar conosco, e desta vez vieram quatro de uma só vez.
Embora… no primeiro dia, uma deles tenha ido embora.
Droga. Não consigo lembrar o nome dela.
Mas lembro-me bem dos outros três.
Enalir, uma elfa vinda de Liin. Tinha um olhar sério e raramente expressava emoções. Parecia obstinada. O segundo era Enkar. Não falou muito sobre si, mas eu conhecia seu pai — Entar, do Conselho de Reuhtor. O rapaz parecia desiludido, talvez frustrado com algo. Era também o mais jovem do grupo. Por fim, Kazur. Um gigante. Sem dúvida o mais animado entre os quatro, embora tenha tido bastante dificuldade para atravessar a porta.
Os três estavam parados no salão enquanto o mago louco fazia seu discurso de boas-vindas, e eu me mantinha a poucos passos atrás. Apesar da empolgação por voltar a lecionar, algo me distraiu naquele momento: uma pergunta bastante familiar vinda da quarta aluna, sobre os boatos de perigo da torre.
Sorri, tomado por uma breve nostalgia que durou exatamente dois ou três segundos — antes de ser arremessado pelo salão como parte de uma “demonstração de segurança” do mago louco.
Não sei ao certo o que me atingiu. Acordei horas depois na ala hospitalar, com Bruun, nosso Ent curandeiro, tentando me dar um remédio em uma tigela enorme… ou talvez estivesse inconscientemente tentando me afogar. É difícil saber. Hahaha!
Desci as escadas para retornar ao salão, mas obviamente não encontrei ninguém. Decidi então ir para minha sala, quando cruzei com o mago, que me perguntou se eu não pretendia aplicar a aula inaugural.
Juro que, nesse momento, considerei seriamente lançar-lhe uma azaração e o transformar em algum inseto, talvez o jogando dentro de um pote. Mas lembrei da última vez em que o transformei em um gafanhoto — e de como ele conseguiu, de alguma forma, invocar uma nuvem inteira deles para dentro da torre.
Dei meia-volta e entrei na sala.
Enkar e Enalir dormiam sobre suas carteiras. Kazur lia um dos livros da prateleira, enquanto a quarta aluna permanecia imóvel, sentada em sua cadeira. Estalei os dedos perto de seu rosto. Ela respondeu com um grito estrondoso.
Todos se assustaram. Inclusive eu.
Ela recolheu suas coisas e saiu apressada. Mais tarde, descobri que havia desistido.
Dirigi-me à minha velha mesa de carvalho escuro, coberta de poeira após tanto tempo sem uso. Puxei a varinha e invoquei uma leve lufada de vento para limpá-la. Sentei-me e observei a sala.
Por um instante, senti-me vivo novamente.
Kazur escondia o livro sob a mesa, agora atento. Enkar lutava contra o sono, a cabeça lentamente pendendo para trás. Enalir ainda respirava com dificuldade, a mão sobre o peito, recuperando-se do susto recente.
Com um simples feitiço convocatório, trouxe exemplares bastante gastos de Magias para Novatos, um para cada um — enquanto os três reclamavam não serem, segundo eles, “novatos em magia”. Hahaha!
Mais um semestre havia começado.

q gnomo daora kkk, vai ser top quando tivermos uma carta dele